terça-feira, 16 de junho de 2015

Não sou deste tempo

Há alturas em que não me sinto deste mundo. Há alturas em que não me sinto deste tempo. Onde tudo me parece tão complexo. Porque que temos sempre, ou quase sempre, a tendência em complicar o que a vida tornou simples de decifrar, de viver, de medir, de percepcionar…
Tudo parece descartável e fácil. Parece que ninguém, ou quase ninguém, se nega a um simples momento, mas e de forma a tornar tudo descartável, já vai com os todos os anticorpos em modo de alerta máximo. Parece que não pertenço a este mundo, onde se coloca na reciclagem aquilo com o qual não nos apetece lidar. Onde tudo ali, bem arrumado, referira-se reciclagem, se torna bem mais simples de viver, do que descontrolado numa autêntica desarrumação típica de um “ambiente de trabalho”. Gosto mais desse tal “ambiente de trabalho”, onde temos a hipótese de baralhar e dar, de desarrumar mais um pouquinho, de ajustar em altura tudo o que a nossa parte emocional nos diz para ajustar. Gosto de coisas pouco monótonas, demasiado arrumadas. Sou assim, vivo muito, intensamente. Não sou deste tempo, onde se encontra com facilidade uma outra opção disponível e menos trabalhosa e se acomoda a ela.
Não sou deste tempo onde se acha que se ama, e à mínima palavra mal dita, mal interpretada, se dá um passo atrás e se decide ir em busca de algo que não desarrume demasiado a nossa reciclagem. Não sou deste tempo, onde tudo, ou quase tudo, é dito por meias palavras, onde se oferece apenas um meio abraço, um meio olhar, um meio carinho. Não sou deste tempo, onde tudo é levado em lume brando, não dando tempo sequer para perceber o que poderia, ou até não, resultar daquela simples e genuína abordagem. Aquela abordagem desconcertada e vivida pela experimentação das emoções e sentimentos vividos, instantaneamente.
Não sou deste tempo, onde tudo parece demasiado controlado pela razão, que até por nos é desconhecida, só porque não queremos desarrumar demasiado aquela espaço, físico ou emocional, que tão pouco trabalho deu a colocar na “reciclagem”. Não sou deste tempo, onde apenas mostro metade de mim, guardando o resto para caso de algo correr mal, a ressaca não seja vivida no limite. Sou assim, mostro-me tal qual, sem filtros, sem receios. Sou transparente. Não sei mostrar apenas uma superfície de mim. Não sei, passar despercebido quando gosto. Não consigo passar apenas ao de leve quando gosto. Gosto que me sintam, que me saibam sentir. Não sei ser apenas uma parte. Não sei gostar com facilidade, não me apaixono assim, pelo estalar de dedos, ou por magia. Contudo, quando gosto, quando estou apaixonado, sou intenso, demonstrativo e meigo. Gosto de gostar de alguém, de sentir o sentimento, de o experimentar, de o demonstrar. Não por necessidade, mas sim porque adoro viver, adoro estar apaixonado, tudo se torna tão simples e belo. Haverá sentimento mais intenso, do que o sentimento interpessoal? Penso que não…
Por isso não me sinto deste tempo, onde tudo e descartável. Não sou deste tempo, nem quero ser ensinado a ser…

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